Quais são os sinais precoces do Autismo? Daniela Aguilera Moura Antonio, Maria Alice Fontes.

O que é Autismo?

Autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, que compromete a capacidade da criança se relacionar com o mundo que a cerca. Somos seres grupais por natureza e desde bebê já é possível observar o desenvolvimento das características sociais como sorrir, atender pelo nome, procurar pela mãe e pelo pai, reconhecer uma voz, dar tchau, brincar com amigos, compartilhar sentimentos e conversar. Essas características servem para fazermos vínculos afetivos, nos sentir pertencente a um grupo e garantir nossa sobrevivência, e dependemos essencialmente da comunicação, sendo ela verbal: fala, ou não verbal: gestos e ações. Alterações no funcionamento do cérebro social no autismo podem ter diversas causas, tanto genéticas quanto ambientais, mas até hoje, as pesquisas não conseguiram estabelecer a real causa para o Autismo, sendo assim uma causa multifatorial. Assim, dependendo do fator de influencia e das redes neuronais afetadas, há um tipo de funcionamento diferente do outro, então cada criança é diferente da outra, podendo tem traços mais leves ou mais acentuados, indicando se a criança vai precisar mais ou menos de intervenção.

Quais são os primeiros sinais de autismo?

Crianças com autismo nascem com alterações na rede de funcionamento cerebral envolvidas principalmente nos processamentos das informações associadas à comunicação e à interação social em múltiplos contextos, bem como no processamento da informação de comportamentos padrões interesses ou atividades restritos e repetitivos, e alterações sensoriais. Geralmente os sinais de autismo ficam mais evidentes entre 3 anos a 5 anos, onde espera-se maior interação social entre grupos, mas os pais podem ficar atentos a alguns sinais muito antes disso, a partir dos 2 meses. Abaixo segue alguns sinais que os pais podem observar desde bebê:

  • Faz pouco ou nenhum contato visual;
  • Sorri pouco ou não sorri, e nem demonstra reação em resposta ao sorriso dos pais;
  • Não acompanha com o olhar quando os pais se afastam dele;
  • Não estende os braços quando quer colo da mãe;
  • Não olha quando chamado pelo nome;
  • Não aponta o que quer;
  • Tem redução das expressões faciais;
  • Não dá “tchauzinho”;
  • Não compartilha seu interesse com os pais, ou seja, não mostra um objeto de interesse para os pais;
  • Não balbucia palavras;
  • Não pronuncia nenhuma palavra inteligível;
  • Não elabora palavras simples ou frases simples de duas palavras antes dos 2 anos;
  • Apresenta repetição das palavras dos pais ou de desenhos de forma imediata ou tardia- repete falas do desenho que assistiu no dia anterior (ecolalia) ou apresenta entonação e prosódia de voz diferente (parecendo de personagem);
  • Pode ter hipo ou hiper reações frente a diversos tipos de sons, cheiros, luzes, texturas, dor e toque;
  • Tem seletividade alimentar;
  • Tem interesses incomuns;
  • Não procura situações sociais, tem preferencia em brincar sozinho;
  • Pode ter dificuldades em usar brinquedos de forma funcional e de brincar de forma imaginativa como “faz de conta” e nem jogo simbólico;
  • Tem dificuldade de reconhecer o que os outros pensam ou sentem de acordo com suas expressões faciais;
  • Dificuldade em estabelecer e manter amizades;
  • Podem ter uma excelente habilidade, para números, músicas, falar inglês e ler e escrever bem cedo;
  • Podem se balançar para frente e para trás, balançar as mãos, estalar os dedos de forma estereotipada e incomum;
  • Gostar de rotinas, ordem (enfileirar objetos) e rituais;
  • Podem ter regressão dos marcos do desenvolvimento conquistados até os 2 ou 3 anos de idade;

Como perceber as características e saber se seu filho tem o diagnóstico?

Os pais conhecem bem os filhos, naturalmente percebem se alguma coisa anda diferente em seu desenvolvimento e geralmente são os primeiros a tentar entender o que está acontecendo. Ao identificar que o filho apresenta alguma dessas manifestações, os pais geralmente encaram um processo de negação, não querem acreditar que seu filho é diferente ou acreditam que ele “tem seu tempo e que uma hora vai conseguir”. A escola é uma grande aliada para perceber sinais e sintomas, pois com base no desenvolvimento infantil e em comparação com outras crianças, conseguem perceber comportamentos diferentes do esperado para idade. É imprescindível que a escola comunique sua suspeita para os pais e os oriente a procurar ajuda. Amigos, família e vizinhos, bem como outras crianças, também podem perceber características diferentes do desenvolvimento esperado quando comparada com outras crianças e podem chegar a exclui-la e fazer bullyng.

A melhor coisa a se fazer quando os pais, a escola ou alguém identifica atrasos ou sinais de alterações no desenvolvimento de uma criança é procurar ajuda de um especialista em desenvolvimento infantil. O diagnóstico é clinico e baseado em uma avaliação multiprofissional com neurologista ou psiquiatra infantil, psicóloga e fonoaudióloga. Juntamente com a coleta de dados de diversas fontes de informações como histórico de desenvolvimento pelos pais, relatório escolar, observações clínicas e auto relato (quando possível), para verificar a presença de sinais e sintomas listados dentro do Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais em sua 5ª edição (DSM-V) e o quanto eles comprometem a vida da criança. Para isso, também se utiliza de instrumentos padronizados de diagnóstico do comportamento com boas propriedades psicométricas (escassos no Brasil), escalas questionários e medidas de observação clínica protocolada que aumente a confiabilidade do diagnóstico ao longo do tempo entre clínicos. Por ser um diagnóstico clínico, ou seja, não existe um exame que diga se a criança está ou não no espectro, ele nem sempre é acertado na primeira tentativa, pois outros distúrbios do desenvolvimento e linguagem também compartilham alguns desses sintomas, por isso, muitos pais passam por diversos médicos até chegar a um diagnóstico.

Qual a importância de saber um diagnóstico precocemente?

Hoje se sabe que, quanto mais cedo as intervenções terapêuticas começarem, maiores as chances de a criança conseguir se relacionar de forma funcional com o mundo que a cerca. Isso pode acontecer devido ao próprio estágio de desenvolvimento do cérebro, pois na primeira infância, existe o que se chama janela de oportunidade para a intervenção, um momento em que a intervenção focada aumenta grandemente as chances de sucesso. Nessa fase a neuroplasticidade, que é capacidade do cérebro aprender e se adaptar a novas experiências, está a todo vapor. Estimulação e intervenção precoce direcionada com equipe multidisciplinar auxiliam o cérebro a se reorganizar de maneira mais adaptativa e aprender novas informações de maneira mais funcional e adaptada.

Como é o tratamento de crianças autistas?

O autismo é um transtorno que nasce com a criança e que não tem cura, mas há tratamentos que melhoram significativamente os sintomas e permitem que a criança tenha uma vida mais funcional e adaptada a suas necessidades. Para isso a intervenção deve considerar os sintomas presentes, o histórico de desenvolvimento da criança, presença de outras condições como epilepsia, desatenção, ansiedade, TOC, além dos recursos cognitivos. Deve sempre considerar as potencialidades e dificuldades da criança. O tratamento idealmente deve ser realizado com uma equipe multidisciplinar envolvendo neurologistas ou psiquiatras, psicólogo, fonoaudiólogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais (com especialização em integração sensorial) e fisioterapeutas, que seguem abordagens comprovadas cientificamente, ou seja, baseada em evidências de eficácia.

No entanto, trazer uma criança com dificuldades sociais a um mundo baseado na linguagem verbal e nas relações interpessoais não é tarefa fácil e depende, e muito, dos pais. Assim, parte do tratamento se faz em casa, com a devida orientação e treinamento, os pais devem trabalhar juntos para dar continuidade ao trabalho terapêutico e estabelecerem uma correspondência com a criança e forma de estimulá-la, entendê-la e suprir suas necessidades, visando sua autonomia e independência, ainda que possa ter algumas dificuldades.

REFERÊNCIAS:

DSM-5 Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. American Psychiatric Association. 5ª edição. Porto Alegre: Artmed. 2014
www.autismoerealidade.com.br