Procrastinação. Maria Alice Fontes

Quando falamos em procrastinação, nos referimos ao atraso irracional e desnecessário de tarefas, o que é acompanhado por emoções negativas e desconforto psicológico, com a pessoa sentindo culpa e insatisfação.

Esse tipo de comportamento pode gerar sérios problemas para a vida de um indivíduo.

Quando pensamos em um mundo cheio de tarefas a serem realizadas, a procrastinação se torna algo que produz conforto temporariamente, sendo uma estratégia para enfrentar tarefas que não gostamos, ou seja, que são aversivas.

Causas da procrastinação

Podem haver infinitas causas para a procrastinação, como a falta de organização, preocupação excessiva com a capacidade fazer a tarefa, não querer realizar as tarefas ou mesmo não saber por onde começar.

Fortes preditores para a procrastinação são a baixa eficácia, adversidade a tarefa, baixo autocontrole, perfeccionismo, elevada distraibilidade e impulsividade.

Procrastinação e Terapia Cognitiva Comportamental

Em seu modelo cognitivo, Beck estabelece o papel central do pensamento quanto à evocação e manutenção das emoções e pensamentos.

Nesse modelo, a interpretação de uma pessoa sobre uma situação determina os seus sentimentos e, consequentemente, seus comportamentos.

Além disso, há também os níveis de avaliações cognitivas, sendo os níveis mais imediatos os pensamentos automáticos, que são classificados em vista das suas distorções cognitivas.

Com o treino, é possível identificar esses pensamentos. A partir desse momento, começa a psicoeducação, através da qual o paciente aprende sobre seus pensamentos e sobre as funcionalidades destes. Desse modo, ele poderá corrigir suas distorções cognitivas, modificando suas respostas emocionais.

O primeiro passo é identificar os pensamentos disfuncionais, que fazem distorções na realidade, interferindo na capacidade das pessoas, o que dificulta que elas alcancem seus objetivos, as deixando em uma situação angustiante. Nesse contexto, a pessoa para a desenvolver esquemas mentais, que fazem com que ela tenha padrões de sentimentos, percepções e ações em determinadas situações de sua vida.

Por exemplo: Marianna é uma aluna que pensa que é burra, por esse motivo, ela nem estuda para tirar uma boa nota na prova, porque ela acha que, mesmo se estudasse, não iria tirar uma boa nota. Como ela não estudou, tirou de fato uma nota ruim na prova, o que retroalimenta o pensamento de que ela é burra.

No caso da procrastinação, pensamentos como “não sou bom, não mereço, não sei fazer direito” determinam as ações de uma pessoa, fazendo com que sua atenção e memória sejam seletivas, para que ela busque evidências de que tais pensamentos são verdadeiros.

E, quando ela evita a situação temida, forma um ciclo vicioso de pensamentos, emoções e comportamentos, os quais atuam intensificando o comportamento procrastinatório.

Na maioria das vezes, quem procrastina não sabe porque o faz, mas se sentem mal e gostariam de não fazer isso.

Desde cedo, na infância, as pessoas desenvolvem as crenças nucleares, as quais são ideais profundas e duradouras sobre si mesmas, que são vistas por elas como verdades absolutas.

A procrastinação, na vida de muitas pessoas, está embasada em uma crença de fracasso, que faz com que o indivíduo estabeleça esquemas que mentais que confirmem essa ideia ao longo da sua vida. Então, eles possuem a tendência de se recordar das críticas negativas sobre a tarefa, sendo que a estratégia de procrastinação reforça a sua crença de fracasso.

Em associação a crença de fracasso, está o perfeccionismo irracional, que faz com que o indivíduo busque de forma disfuncional a perfeição, o que impacta negativamente seu desempenho em tarefas.

Tratamento da procrastinação

A TCC tem como principais métodos para combater a procrastinação o trabalho com a motivação do indivíduo e com seus medos.

Quanto à motivação, deve-se trabalhar os objetivos que o indivíduo tem para sua vida, abordando seus sonhos e planos, perguntando, por exemplo, onde ele quer chegar.

Depois, o trabalho deve ser direcionado a como ele quer alcançar esses objetivos, ajudando o paciente a elaborar as ações que ele precisa tomar.

O trabalho com os medos, se refere a suas crenças centrais, que mencionamos acima. Por exemplo, uma crença relacionada ao medo de não conseguir fazer algo, e trabalhar com essa crença através de questionamentos, demonstrando como essas crenças não fazem sentido com a realidade.

Mas, antes de todo esse processo, é necessário analisar se a pessoa não está com um excesso de tarefas para lidar, ou se somente tem dificuldade na organização dessas tarefas.


Referências:

BRITO, Fernanda de Souza; BAKOS, Daniela Di Giorgio Schneider. Procrastinação e terapia cognitivo-comportamental: uma revisão integrativa. Rev. bras.ter. cogn., Rio de Janeiro , v. 9, n. 1, p. 34-41, jun. 2013. Disponível em http://dx.doi.org/10.5935/1808-5687.20130006.