A alfabetização consiste no aprendizado do alfabeto e de sua utilização como código de comunicação para a leitura e escrita. Esse processo inclui a aquisição das habilidades de codificação e decodificação ao ler, e também na competência para produzir conhecimento, ressignificar, interpretar, compreender e analisar conhecimentos.
Nas séries iniciais do ensino fundamental I acontece o processo de alfabetização, a base para que a criança tenha domínio de diversas habilidades para a leitura e escrita. Essas habilidades são mediadas por complexos sistemas cerebrais que vão desde o reconhecimento visual, passando pela elaborada relação dos grafemas (escrita) com os fonemas (escritas).
Além da compreensão do que se lê, a alfabetização pretende desenvolver estratégias para continuar a ler com autonomia e adquirir conhecimento. Ensinar a ler e escrever exige em estudo constante para conhecer verdadeiramente como as crianças apreendem, memorizam e desenvolvem essa complexa tarefa.
Quando encontramos dificuldades, é papel do educador estruturar atividades e propiciar momentos que estimulem nesse processo garantindo melhor desenvolvimento e aquisição da escrita e leitura.
Quando se deve começar a alfabetizar uma criança?
Há muitos anos a reflexão sobre a idade para alfabetizar uma criança tem sido tema de discussão entre os especialistas, pois precisamos conciliar a prontidão do cérebro, com as demandas da sociedade moderna que espera que crianças muito pequenas aprendam a ler rapidamente. Desde o nascimento começamos a ser expostos à nossa língua materna falada, assim como a uma série de códigos a serem interpretados como letras, nomes, histórias e livros.
Quando as crianças entram na Educação Infantil, aos quatro ou cinco anos, elas já estão dominando um importante pré-requisito que é a linguagem oral. Segundo Paulo Freire (1989), “[…] o ato de ler não se esgota na decodificação pura da palavra escrita, mas se antecipa e se alonga na inteligência do mundo”. Assim, uma vez que a criança está na escola, o professor deve ficar atento para não perder oportunidades de ingressá-la na cultura da escrita, preparando-a e conduzindo-a a vivenciar situações de interação com o código da linguagem, pois a alfabetização é um ato social e com uma função comunicativa.
Quais são as habilidades necessárias para aprender a ler e escrever?
As crianças em idade pré-escolar estão em pleno desenvolvimento cerebral. Segundo Capellini, para ler, a criança deve adquirir certo número de habilidades cognitivas e perceptivo-linguísticas, que incluem habilidade de focalizar a atenção, a concentração e o seguimento de instruções; habilidade para entender e interpretar a língua falada no cotidiano; memória auditiva e ordenação; memória visual e ordenação; habilidade no processamento das palavras; análise estrutural e contextual da língua; síntese lógica e interpretação da língua; desenvolvimento e expansão do vocabulário e fluência na leitura.
Tudo isso parece muito simples quando acontece de forma linear, entretanto quando encontramos dificuldades percebemos a complexidade dos sistemas que envolvem a neuroaprendizagem.
O sistema alfabético de escrita associa um componente auditivo fonêmico a um componente visual gráfico (correspondência grafofonêmica), e para a compreensão do princípio alfabético são necessários três fatores: a consciência de que é possível segmentar a língua falada em unidades distintas; o conhecimento de que essas unidades repetem-se em diferentes palavras faladas e a ciência das regras de correspondência entre grafemas e fonemas. Destacam-se que os dois primeiros fatores são aspectos da consciência fonológica, e isso a coloca como indispensável no desenvolvimento da leitura e da escrita.
Entre os quatro e seis anos é possível despertar o interesse da criança pela leitura e escrita, o que proporcionará um início do processo de alfabetização mais natural.
Quais os sinais de alerta para as dificuldades no processo de alfabetização?
A criança com transtornos na aprendizagem pode apresentar baixo desempenho escolar, sendo que essas dificuldades podem ser transitórias (dificuldade de aprendizagem) ou permanentes (transtorno de aprendizagem ou dislexia) e ocorrer em quaisquer momentos no processo de ensino e aprendizagem.
As alterações no processo de aprendizagem sofrem as influências dos fatores genéticos e neurológicos, assim como são influenciados por fatores psicológicos, socioeconômicos e culturais.
Desta forma, as dificuldade de aprendizagem são relacionadas principalmente com o sujeito que aprende, os conteu?dos pedago?gicos, o professor, os me?todos de ensino e o ambiente fi?sico e social da escola. Já os transtornos de aprendizagem se referem a um grupo de dificuldades, que requerem uma avaliação multiprofissional especifica para identificar alterações neuropsicopedagógicas responsáveis pelo insucesso na escrita, leitura, raciocínio e no ca?lculo matema?tico.
Como é o trabalho do fonoaudiólogo, psicopedagogo ou neuropsicólogo no processo de leitura e escrita?
Os profissionais especialistas na aprendizagem são responsáveis por avaliar e traçar propostas que auxiliem no processo de aprendizagem da criança.
O fonoaudiólogo especialista em aprendizagem é fundamental para desenvolver estratégias de remediação com soluções para alcançar os melhores resultados em sua linguagem. Em relação ao processo de alfabetização, como já descrito é de considerável importância que a criança relacione fonema/grafema. Nesse caso, o fonoaudiólogo é o profissional apto a trabalhar com os fonemas, auxiliar a criança que apresenta alterações nessas relações, avaliando e criando um programa de intervenção direcionado ao ensino dessa estruturação fonológica para a aquisição do princípio alfabético da escrita.
Os profissionais especialistas em linguagem e aprendizagem exercem suas atividades com atividades lúdicas, envolvendo textos próprios para a infância e materiais que estimulem todos os aspectos da neuroaprendizagem.
Quando necessário, o profissional conta com uma equipe de psicólogos, terapeuta ocupacional, psicopedagogos e outros profissionais da área da saúde e educação para ajudar na identificação dos problemas que afligem a criança.
Respeitar o desenvolvimento da criança proporciona a ela e ao seu processo de aprendizagem o fortalecimento de autoconfiança, segurança em executar tarefas, capacidade de observar e entender o erro e tentar sua reconstrução, evitando que esse período seja de frustrações e de sentimentos de incapacidade, o que pode interferir negativamente em seu desenvolvimento futuro. Entretanto, não podemos desvalidar os marcos do desenvolvimento como viés importante nas estimulações, assim como a busca por ajuda de profissional especialista para avaliar as causas e condições de intervenções necessárias para a alfabetização da criança.
Sempre que tiver dúvidas, consulte um especialista.
Bibiliografia
– Capellini, S. A., & Ciasca, S. M. (1999). Aplicac?a?o da prova de conscie?ncia fonolo?gica (PCF) em escolares com dificuldade na leitura. Jornal Brasileiro de Fonoaudiologia, 1(1), 11-15.
– Capellini, S. A.; Ciasca, S. M. Avaliac?a?o da conscie?ncia fonolo?gica em crianc?as com distu?rbio especi?fico de leitura e escrita e distu?rbio de aprendizagem. Temas Desenvol., v. 8, n. 48, p. 17-23, 2000.
– Capellini S. A.; Cunha Vera Lu?cia Orlandi. Habilidades metalingui?sticas no processo de alfabetizac?a?o de escolares com transtornos de aprendizagem. Rev. Psicopedagogia 2011; 28(85): 85-96
– Capellini, S. A., Sampaio, M. N., Fukuda, M. T. M., Oliveira, A. M., Fadini, C. C., & Martins, M. A. (2009). Protocolo de identificac?a?o precoce dos problemas de leitura: estudo preliminar com escolares de 1o ano escolar. Revista Psicopedagogia, 26(81), 367-375.
– Cavalcante, C. A.; Mendes, M. A. M. A avaliac?a?o da conscie?ncia fonolo?gica em crianc?as de primeira se?rie alfabetizadas com metodologias diferentes. R. Cefac, v. 5, n. 3, p. 205-208, 2003.
– Ferreiro, E. & Teberosky, A. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: ARTMED, 1999.
– Ferreiro, E. O ingresso na escrita e nas culturas do escrito: seleção de textos de pesquisa. São Paulo: Cortez, 2013.