O que é Terapia Cognitiva Comportamental? Maria Alice Fontes

O termo Terapia Cognitiva foi originalmente criado por Aaron Beck no início da década de 60, quando ele desenvolveu um tipo de terapia estruturada, de breve duração, orientada para o presente, direcionada para solução de problemas e para mudança de pensamentos e comportamentos disfuncionais (Beck, 1964).

Na Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) o tratamento é baseado em uma conceitualização inicial, ou seja no entendimento da estrutura de funcionamento do paciente, com os seus padrões de pensamentos e comportamentos usuais.

A partir da conceitualização, o terapeuta faz hipóteses sobre o funcionamento psíquico e começa a trabalhar junto com o paciente, para buscar mudanças sustentáveis de pensamentos, crenças e comportamentos.

O modelo cognitivo se propõe a analisar e modificar os pensamentos disfuncionais, que geralmente influenciam o humor e o comportamento do paciente.

O termo comportamental foi integrado a esta abordagem pois utiliza técnicas que incluem mudanças de comportamento e que sempre apresentam uma grande eficácia científica.

O que são os pensamentos disfuncionais?

Os pensamentos são a maneira pela qual nós interpretamos uma situação e eles podem eventualmente estar distorcidos. Por exemplo, pacientes que tem depressão em geral tem pensamentos negativos sobre si mesmos, sobre o mundo e sobre o futuro.

Por outro lado, os pacientes ansiosos podem ter pensamentos de preocupação em relação a si mesmos, ao ambiente e ao futuro. Sentem-se ameaçados ou vulneráveis e precisam estar sempre em alerta. A ansiedade não os deixam acalmar a mente e os pensamentos são frequentemente distorcidos em relação ao grau de perigo que o mundo oferece.

Assim os pensamentos disfuncionais são padrões automáticos de falas e imagens que se manifestam de forma totalmente espontânea. Como são distorcidos, levam os pacientes a emoções e sentimentos disfuncionais, assim como problemas comportamentais.

Qual a teoria por trás da Terapia Cognitiva Comportamental?

De forma simples, o modelo cognitivo propõe que o pensamento disfuncional, o qual influencia o humor e os comportamentos está presente em quase todos os transtornos psicológicos. Quando uma pessoa aprende a avaliar os seus pensamentos de forma mais realística e adaptativa, acontece uma melhora no estado emocional e nos problemas comportamentais.

Voltando ao caso da depressão, se pudéssemos identificar o que se passa na cabeça de um paciente deprimido, provavelmente perceberíamos pensamentos automáticos, ou seja ideias que saltam à mente do tipo: “eu não faço nada certo” ou “eu não sou importante para ninguém”. Estes pensamentos podem desencadear emoções negativas e fazer com que este paciente tenha o comportamento de ficar na cama sem vontade de fazer nada. Se conseguíssemos avaliar profundamente a validade destas ideias, poderíamos concluir que há uma grande generalização nelas, e que efetivamente esta pessoa faz uma série de coisas bem, e que é querida por algumas pessoas. Olhar para esta experiência com uma nova perspectiva pode eventualmente fazer o paciente se sentir melhor e ter comportamentos mais adaptativos.

Mas o tratamento em TCC não se restringe a modificar pensamentos disfuncionais, mas se propõe a modificar os pressupostos subjacentes e as crenças nucleares, que é a estrutura de nossa organização psíquica e de nossos sintomas.

A TCC dispõe de uma série de técnicas comportamentais que são aplicadas de forma colaborativa com o paciente, de meneira que a terapia se torna prática, com o constante direcionamento do terapeuta e a avaliação do paciente.

Como é uma sessão típica de Terapia Cognitiva Comportamental?

A estrutura de uma sessão de terapia cognitiva é basicamente a mesma dentre os diversos tipos de diagnóstico, mas as intervenções e as técnicas variam de acordo com cada paciente.

No início da sessão é fundamental que o terapeuta estabeleça uma boa aliança terapêutica com o paciente, checando seu o humor e os sintomas que ele experimentou na última semana.

Em seguida, o terapeuta deve listar com o paciente quais os assuntos gostaria de abordar naquela sessão. Estes assuntos podem ser eventos novos que aconteceram naquela semana ou temas previamente abordados que estão sendo trabalhados de forma direcionada.

O terapeuta pergunta sobre as atividades que deixou prevista para o paciente fazer, avaliando se o seu plano foi executado e se os resultados estão sendo observados.

Ao longo da sessão o terapeuta irá colhendo os dados de cada assunto, buscando a conceitualização cognitiva do que está sendo trazido pelo paciente. O terapeuta investiga o que o paciente estava pensando, sentindo e fazendo em cada determinada situação, a fim de estabelecerem um plano de ação, considerando as estratégias de enfrentamento de forma colaborativa. As estratégias incluem resolução objetiva de problemas, processo de tomada de decisão, avaliação dos pensamentos de forma socrática, análise das crenças internas, modificação de crenças nucleares, entre outras.

Ao final de cada sessão o terapeuta pede um feedback sobre o que trataram na sessão a fim de avaliar se as estratégias estão sendo aproveitadas pelo paciente.

O que dizem as pesquisas científicas sobre a eficácia da Terapia Cognitiva Comportamental?

A TCC está em constante evolução pelo que é chamado de “evidência empírica” ou “prática baseada em evidências”. Esta forma de psicoterapia é constantemente alinhada com as últimas recomendações da pesquisa sugerindo o que funciona melhor para cada tipo de diagnóstico.

Em um estudo importante de revisão sistemática (Hofmann et al, 2012), foram identificados 269 pesquisas e encontrada uma amostra representativa de 106 meta análises, examinando TCC para diversos problemas. As melhores evidências são para a aplicação da TCC nos transtornos de ansiedade, transtornos somatoformes, bulimia, problemas de controle de raiva e estresse geral. Onze estudos compararam as taxas de resposta entre a TCC e outros tratamentos ou condições de controle, destes a TCC mostrou taxas de resposta mais elevadas do que as outras abordagens em 7 destas revisões. Em geral, a evidência da TCC é muito forte (Warwick at al., 2016; de Hullu et al., 2016). No entanto, ainda são necessárias mais pesquisas para examinar a eficácia da TCC em estudos randomizados controlados.

Bibliografia

Beck, A.T. (1964) ‘Thinking and Depression: 2. Theory and Therapy’, Archives of General Psychiatry 10:561-71.

Beck, J. (2011) Cognitive Behavior Therapy: Basics and Beyond. Second Edition. The Gilford Press.

Hofmann SG, Asnaani A, Vonk IJ, Sawyer AT, Fang A. The Efficacy of Cognitive Behavioral Therapy: A Review of Meta-analyses. Cognit Ther Res. 2012 Oct 1;36(5):427-440.

Warwick H, Reardon T, Cooper P, Murayama K, Reynolds S, Wilson C, Creswell C. Complete recovery from anxiety disorders following Cognitive Behavior Therapy in children and adolescents: A meta-analysis. Clin Psychol Rev. 2016 Dec 21;52:77-91.

de Hullu E, Sportel BE, Nauta MH, de Jong PJ. Cognitive bias modification and CBT as early interventions for adolescent social and test anxiety: Two-year follow-up of a randomized controlled trial. J Behav Ther Exp Psychiatry. 2016 Nov 25;55:81-89.