A pesquisa sobre os estilos parentais e o desenvolvimento dos filhos teve início com Diana Baumrind, uma psicóloga pesquisadora que se concentrou na classificação de estilos parentais no ano de 1967. Ela descobriu o que considerou ser os quatro elementos básicos que podem ajudar a moldar uma paternidade bem-sucedida: capacidade de resposta vs. indiferença e exigência vs. pouca exigência
A capacidade de resposta refere-se a conexão e a exigência está ligada às regras, expectativas e o nível de repercussões ou consequências que se seguem se essas regras forem quebradas.
Baumrind identificou inicialmente três estilos parentais: paternidade autoritária, permissiva e competente. Maccoby e Martin (1983) expandiram os três estilos parentais originais de Baumrind, colocando-os em duas categorias distintas: exigente e pouco exigente. Com essas distinções, quatro novos estilos parentais foram definidos:
1. Autoritário
2. Permissivo
3. Ausente
4. Democrático
Cada estilo parental pode ser identificado por uma série de características diferentes.
Estilo de parentalidade autoritária
É o modelo onde os pais acreditam, que crianças devem ser vistas e não ouvidas. Quando se trata de regras, pensam que deve ser sempre "do jeito" dos adultos, sem levar em consideração os sentimentos dos filhos. Pais autoritários acreditam que os filhos devem seguir as regras, sem exceção, sendo famosos por dizer: "porque eu mandei". Eles não estão interessados em negociar e o foco está na obediência.
Eles também não permitem que as crianças busquem resolução de problemas, pois fazem as regras e as impõe as consequências e pouca consideração com a opinião da criança.
Pais autoritários tendem a usar punições em vez de disciplina. Portanto, em vez de ensinar uma criança a fazer escolhas melhores, eles acreditam que os filhos devam “pagar” pelos seus erros.
Crianças que crescem com pais autoritários tendem a seguir regras, entretanto a obediência tem um preço. Esses filhos podem desenvolver problemas de autoestima porque suas opiniões raramente são valorizadas.
Eles podem também se tornar rebeldes e agressivos. Em vez de pensar em como fazer as coisas melhor no futuro, costumam se concentrar na raiva que sentem dos pais. Como os pais autoritários costumam ser muito rígidos, seus filhos podem se tornar mentirosos na tentativa de evitar punições.
Estilo de paternidade permissiva
Os pais permissivos geralmente definem regras, mas raramente as aplicam, sendo muito tolerantes. Evitam entrar em confronto e raramente apontam consequências dos atos dos filhos, pois acham eles aprenderão melhor com pouca interferência.
Os pais podem perdoar bastante e adotar uma atitude de superproteção. Eles em geral devolvem os privilégios se a criança implorar ou mostrar algum tipo de sofrimento. Assumem o papel mais de amigos do que de pais. Frequentemente, incentivam os filhos a conversar com eles sobre seus problemas, mas evitam ser firmes frente ao mau comportamento.
Estudos mostram que crianças que crescem com pais permissivos têm maior probabilidade de ter dificuldades acadêmicas, podem apresentar mais problemas comportamentais, pois não aceitam autoridade e regras. Frequentemente, apresentam baixa autoestima e podem relatar muita tristeza. Eles também correm maior risco de ter problemas de saúde como sobrepeso devido a ingesta de alimentos inadequados, sem atividade física.
Estilo de paternidade ausente
Os pais ausentes não passam muito tempo com os filhos, raramente sabem onde ou com quem estão. Evitam perguntar sobre a escola ou os deveres de casa.
O estilo ausente ou indiferente é marcado pela falta de envolvimento, poucas regras, pouca orientação e consequente pouco cuidado e atenção dos pais.
Os pais não envolvidos esperam que os filhos se cuidem sozinhos e podem não dedicar muito tempo ou energia para atender às necessidades básicas das crianças. Eles podem acabar sendo negligentes, mesmo sem ter intenção ou perceber. Pais ausentes podem ser aqueles que tem problemas de saúde mental ou de abuso de substâncias, não sendo capazes de cuidar das necessidades físicas ou emocionais de uma criança de forma consistente.
Estes frequentemente têm pouco conhecimento sobre o desenvolvimento infantil. Eles podem simplesmente estar sobrecarregados com outros problemas, como trabalho, saúde ou outra família.
Filhos com pais não envolvidos tendem a ter problemas psicológicos e baixo desempenho escolar. Eles também podem exibir problemas de comportamento, tendência a depressão e se envolver com situações de risco.
Estilo de parentalidade democrática
Os pais democráticos se preocupam em manter um relacionamento positivo com seus filhos, mas ao mesmo tempo são firmes com as regras e no monitoramento das necessidades básicas de conexão e limites. Os pais firmes e gentis ao mesmo tempo fazem um bom trabalho de demostrar amor, e explicam as razões por trás de suas regras, tornando os desafios em oportunidades de aprendizado.
Os pais democráticos validam os sentimentos dos filhos, sabem ouvir e ao mesmo tempo que deixam claro que os adultos estão no comando. Eles investem tempo e energia na prevenção de problemas de comportamento antes que apareçam. Usam estratégias de disciplina positiva, evitando punições e recompensas e buscam sempre encorajar as habilidades de vida dos filhos.
Os pesquisadores descobriram que crianças com pais democráticos têm maior probabilidade de se tornarem adultos responsáveis, autônimos e que se sentem confortáveis para expressar suas opiniões.
Crianças criadas com disciplina positiva tendem a ser mais bem-sucedidas nos estudos, mostrando boa autoestima, habilidade de resolução de conflitos, sendo mais propensos a tomar decisões e avaliar os riscos por conta própria. São classificadas como mais competentes em todos os níveis, ou seja, tem boas habilidades sociais, são otimistas e possuem resiliência.
Os estudos são contundentes que o estilo democrático é o melhor modelo parental. Mas, mesmo que você tenda a se identificar com outros estilos de criação de filhos, fique ciente que o equilíbrio de tentar buscar o caminho do fundamental para o melhor desenvolvimento possível dos filhos.
É comum que os pais não se encaixam totalmente em apenas um estilo, pois podem ter momentos ou áreas em que tendem a ser permissivo e outros, mais autoritário. Mas, com dedicação e comprometimento, pode-se manter um relacionamento positivo com os filhos e, ao mesmo tempo, estabelecer autoridade de maneira saudável. E com o tempo os filhos colherão os benefícios de seu estilo democrático.
O encorajamento dos filhos
De acordo com a Dra Jane Nelsen e os autores da disciplina positiva, uma das principais ferramentas para educar os filhos de forma democrática é o encorajamento, pois segundo ela “crianças precisam de encorajamento, assim como as plantas precisam de água”. Entretanto o encorajamento não é fácil porque os adultos estão viciados em reagir ao mau comportamento de forma negativa em vez entender qual a mensagem está por traz. De fato, todas as crianças querem apenas se sentirem aceitas e importantes. Elas precisam de respeito mútuo, redirecionando o mau comportamento para que os erros sejam vistos como oportunidades de aprendizado. As ferramentas da disciplina positiva são excelentes exemplos para se desenvolver um estilo de parentalidade democrática.
Bibliografia:
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