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Quando uma criança está se comportando mal, a Disciplina Positiva entende que essa é uma oportunidade de aprendizagem. Em vez de simplesmente buscar interromper o comportamento, nós deveríamos tentar decifrar qual o objetivo equivocado da criança, ou seja, o que ela está querendo mostrar com esse comportamento para os adultos e isso nos daria pistas sobre qual é a sua crença pessoal da criança por traz do comportamento equivocado.
Segundo Adler e Dreikurs, nós temos dois grandes propósitos na vida, o senso de 1) pertencimento; e 2) importância. O senso de pertencimento significa se sentir parte, conectado a um grupo e sendo representante dele; o senso de importância implica em nos sentimos significantes, que nossa existência tenha um propósito para nós e para alguém.
Assim, segundo Dreikurs, quando uma criança está mostrando um comportamento indevido ou problemático, ela simplesmente quer manter o senso de pertencimento e significância, mas não está conseguindo de maneira direta. Ela está mostrando isso de forma equivocada.
Compreender o objetivo equivocado da criança é a primeira dica para encontrar uma forma diferente do adulto agir e consequentemente mudar a relação e o comportamento da criança.
Vamos explicar isso passo a passo. A primeira dica é identificar os seus sentimentos quando está numa situação difícil com a criança. Compreender o que o adulto está sentindo será o primeiro passo para ter uma hipótese sobre o objetivo da criança naquela situação.
Para ajudar, abra o livro da Disciplina Positiva de capa amarela na página 62 da tradução em português. Você vai encontrar a tabela de objetivos equivocados. Olhe para a segunda coluna da tabela [Se o pai ou mãe/professor se sente] e verá uma série de sentimentos listados.
As crianças nem sempre estão conscientes do seu objetivo equivocado. Lembre-se que todos queremos atenção. Não há nada de errado nisso. O problema é quando as crianças querem atenção indevida. Ou seja, elas buscam o senso de pertencimento por meio de comportamentos irritantes. Isso quer dizer que quando você se sentir aborrecido, irritado, preocupado ou culpado, o objetivo equivocado do seu filho pode ser Atenção Indevida. Como se a crença por traz do comportamento da criança fosse: “Eu pertenço apenas quando você passa tempo prestando atenção em mim, ou cuidando de mim”.
Se esse for o caso, lembre-se que a criança precisa ser redirecionada para que consiga o que procura de forma mais útil e produtiva. Neste caso, vale tentar envolver a criança numa tarefa útil, pedir a ajuda dela e também ter um tempo especial com ela durante a semana.
Quando você se sentir desafiado, ameaçado ou derrotado, o objetivo equivocado de seu filho pode ser poder de forma mal direcionada. Ele pode pensar inconscientemente: “sou eu quem manda aqui, não vou deixar você mandar em mim”.
Neste caso é importante não forçar a criança e sair do embate. É fundamental que o adulto saia do conflito para se acalmar e depois estabeleça limites de uma forma razoável e sem incitar brigas de poder. A criança precisa se sentir envolvida nas decisões.
Já quando você se sentir magoado, desapontado ou desgostoso, muitas vezes cheio de raiva, o objetivo equivocado do seu filho pode ser vingança. Ele pode estar com a crença equivocada: “estou sofrendo e vou machucar qualquer um que estiver no meu caminho.”
Quando este for ao caso, é preciso primeiro lidar com os sentimentos feridos, validar o que a criança está sentindo, procurando no seu coração algumas pistas e dizendo para ela, por exemplo: “eu percebo que você está chateado, porque… e gostaria de ouvir você falar sobre isso.
Quando você se sentir desesperançado, desamparado ou inadequado, o objetivo equivocado de seu filho pode ser inadequação assumida e talvez ele pense que não consegue fazer nada certo. Por isso desiste e pensa: “me deixe em paz”. Quando isso acontece a criança pode pensar que ninguém irá aceita-la e por isso tenta convencer a todos a não esperar nada dela.
À medida que você se familiariza com o Quadro de Objetivos Equivocados, fica mais fácil entrar no mundo da criança e usar ferramentas encorajadoras. No começo, alguns pais dizem que se sentem desamparados e inadequados quando o que estão realmente sentindo é derrotado e que eles não conseguem ganhar a batalha.
Ferramentas parentais encorajadoras ajudarão o seu filho a mudar as suas crenças sobre formas equivocadas de encontrar pertencimento e significância.
O mesmo comportamento pode ser para objetivos diferentes. Por exemplo, algumas crianças podem não fazer o dever de casa ou se vestir pela manhã, porque é uma boa maneira de conseguir atenção indevida. Pode ser uma boa maneira de mostrar um poder mal direcionado. Para algumas crianças, pode ser uma boa maneira de se vingar. “Eu acredito que você se importa mais com minhas notas que comigo. Isso machuca, então eu vou machucar de volta”. Pode ser que uma criança não faça o dever de casa porque acredita que não consegue fazer bem o suficiente e decidiu desistir, inadequação assumida.
Bibliografia:
Jane Nelsen. Disciplina Positiva 2015 | Editora: Manole.