É incômodo conversar sobre a morte com outros adultos. É ainda mais difícil quando você precisa explicar às crianças que um ente querido se foi para sempre. Aqui estão algumas dicas para abordar este tópico inevitável da melhor maneira possível:
Baseie sua discussão na criança e na situação: Em primeiro lugar, não existe uma maneira única de conversar com crianças sobre a morte. Cada criança é diferente e você precisa levar em consideração a idade, quão sensível e madura é a criança, isso sem mencionar o relacionamento dela com o falecido. Uma criança de cinco anos, por exemplo, pode estar bem com uma explicação simples, enquanto um adolescente de 13 anos entenderá e sentirá de forma muito mais aguda. Você conhece seu filho melhor e deve usar esse entendimento para ajudar a orientar o que você disser.
A terapeuta comportamental Janet Lehman, recomenda olhar o temperamento da criança. Por exemplo, se o seu filho é introvertido, observador e reflexivo, fale sobre a morte em termos simples e claros. Não espere que eles estejam dispostos a compartilhar seus sentimentos. Em vez disso, ofereça outras maneiras de expressar seus sentimentos através da arte – um cartão ou uma imagem para lembrar a pessoa, escrever um poema ou uma música (criança introspectiva mais velha), ou mesmo plantar uma árvore em memória do ente querido.
Para uma criança mais extrovertida, reserve tempo suficiente para discutir as questões, comentários e preocupações sobre a perda. Essas crianças podem ter outras formas de expressão, como correr uma maratona em memória da pessoa, se voluntariar por uma causa relacionada para honrar sua memória, etc.
Geralmente é melhor deixar a criança enfrentar, dizem muitos especialistas em psicologia infantil, enquanto você os apoia de uma maneira apropriada para sua idade e desenvolvimento. David R. Castro-Blanco, professor associado no departamento de psicologia clínica da Adler School of Professional Psychology, diz: A recomendação em relação a falar sobre morte com crianças, é sempre corresponder ao nível de desenvolvimento da criança. Em outras palavras, não dê à criança mais do que eles possam enfrentar, mesmo que queria ser honesto ou preciso.
Se você for um pai ou mãe discutindo a própria mortalidade, provavelmente é melhor, especialmente com crianças mais novas, tranquilizá-las e dizer que você não vai deixá-las ou abandoná-las, ao invés de ser estatisticamente preciso e prever que as chances são baixas. As crianças lidam melhor com o concreto e absoluto, e buscam os pais como uma âncora para a estabilidade. Eles precisam acreditar na disponibilidade e consistência dessa âncora.
Outro exemplo de basear sua discussão na situação: em uma idade muito jovem, minha filha falou muito sobre a morte – principalmente dizendo coisas como nunca querer me perder e me perguntando o que aconteceria com ela se ela morresse. Por mais perturbadoras que tenham sido essas discussões, percebi que era mais a sua curiosidade natural, e talvez a disposição natural para o existencialismo, do que um luto sério por trás dessas questões. Tentei falar sobre elas de forma confortante e baseada em fatos, ao invés do meu instinto natural de gritar “O que você está falando! Você é apenas uma criança, não pense na morte!”.
– Ouça e faça perguntas mais do que fale: Sempre que você está conversando com alguém sobre uma situação sensível é melhor ouvir e fazer perguntas, e não assumir o que a outra pessoa está pensando. Isto é especialmente verdadeiro quando conversamos com crianças sobre algo tão temerário e abstrato como a morte. A terapeuta familiar e de casal Erica Curtis aconselha: as vezes, devido à nossa própria ansiedade sobre o assunto, compartilhamos demais, muito pouco ou coisas erradas. Antes de começar a falar sobre informações ou responder a perguntas, tenha uma ideia do que a criança acredita e o que está realmente perguntando. “O que você acha que acontece quando alguém morre?” “O que você gostaria que acontecesse?” Perguntas como essas darão uma melhor percepção do mundo interior do seu filho, seus pensamentos e o que eles estão tentando descobrir.
Quando uma criança pergunta: “mas o que acontece com a vovó?”, ela pode estar se perguntando o que aconteceu antes dela morrer, enquanto outra pode estar se perguntando o que acontecerá depois. Estas são questões muito diferentes. Você pode simplesmente fazer algumas perguntas para esclarecer: “o que aconteceu com a vovó antes ou depois dela morrer?” Da mesma forma, quando um adulto ouve a pergunta “onde ela foi?” muitas vezes pensamos em respostas como “para o céu” ou “ela foi enterrada”. No entanto, uma criança pode estar lembrando dela indo ao hospital.
O quanto compartilhar e explicar é provavelmente a maior dúvida, mas, novamente, deixe seu filho enfrentar o caminho. A psicóloga infantil Dra. Susan Lipkins, diz que a regra geral de conversar com crianças sobre a morte é apenas responder as perguntas que a criança pede – não dê explicações longas e complexas, mas responda as perguntas da criança de acordo com o nível em que ela está.
– Seja honesto, mas evite informações potencialmente traumatizantes. Pode ser tentador “mascarar” ou dar uma razão diferente à morte, particularmente se não for uma morte natural, mas a Dra. Jenny Yip, uma psicóloga clínica que trabalha com crianças, especializada em ansiedade e TOC, recomenda ser o mais honesto possível, o que é uma boa prática sempre que você fala com seus filhos.
Se for uma morte natural, os pais podem explicar que a morte é parte da vida, parte de um processo natural, que permite que o mundo sobreviva. Ao falar de alguém que era muito próximo da criança, é muito importante ser claro e honesto. A desonestidade pode prejudicar ainda mais a criança e muitas vezes causar confusão durante muitos anos, especialmente se ela ouve uma história diferente de outros parentes ou amigos. Ou seja, novamente, dependendo de como a criança está preparada para essa informação.
É bom compartilhar como você está se sentindo, mas como as crianças muitas vezes imitam seus pais, esteja atento a sua reação por perto deles. Lidar com o pesar, infelizmente é uma lição que as crianças precisam aprender – e vale sempre aprender com os adultos que os rodeiam. Algumas abordagens são melhores que outras, então tenha cuidado com o que você diz também. A Dra. Kristine Kevorkian, que possui doutorado em tanatologia, estudo da morte e o morrer, aconselha os doentes terminais e suas famílias: Nunca diga que “a vovó foi dormir e ela está no céu agora”, pois a criança pode ficar tão amedrontada que irá ter dificuldades para dormir. Se estava doente, explique o que isso significa para a criança, não que “a vovó estava doente e agora vai dormir para sempre “. Ou “a vovó tem câncer e foi para o céu.” O que é câncer? Todos morrem de câncer? Explique e, durante toda a conversa, tente pedir à criança que repita o que foi dito para que o adulto ouça se a criança está realmente entendendo.
– Forneça formas de elaborar o luto: Um ano atrás, meu marido e eu tivemos que enterrar nosso amado cachorro, que minha filha conheceu por todos os seus sete anos de vida. Desde então, ela está falando sobre ele como se ele fosse um fantasma, que ela pode ver e conversar. Ela escreve histórias sobre ele, dizendo que ele a consola na escola e em outros momentos. Por mais doloroso que tenha sido para nós, os especialistas que conversei me asseguraram que é uma forma saudável de viver o luto.
Artes, escrita, fotografia e qualquer outra atividade que as crianças gostam podem ajudá-las a honrar e lembrar o amado que morreu – e também ensinar-lhes que, mesmo que alguém tenha partido, eles ainda estão vivos em nossas mentes e corações.
– Fique atento a comportamentos incomuns: Embora não haja regras rígidas sobre como alguém vive o processo de luto, depois de um longo período de tempo com sintomas muito preocupantes, você pode querer consultar um profissional.
O Dr. Hani Talebi, psicólogo em Austin, Texas, aponta as questões que poderiam sugerir que uma criança ou qualquer outra pessoa está sofrendo muito após uma morte:
1) Problemas de sono: dificuldade de início ou manutenção do sono;
2) comportamentos indesejáveis como: agressão em relação a pares, oposição e desafio, desregulação emocional, etc.;
3) incapacidade de se divertir com atividades que anteriormente desfrutavam;
4) Introversão: choro, falta de vontade para comunicar seus pensamentos / sentimentos, isolamento, etc.;
5) Regressão do desenvolvimento: infantil ou imaturidade;
Caso contrário, se a criança parece geralmente ela mesma, não se preocupe. Apenas ouça. Esteja lá e esteja bem e ambos irão superar isso juntos.
Este artigo foi traduzido pela psicóloga Claudia Fischer do site: https://lifehacker.com/how-to-talk-to-your-kids-about-death-1517421198