A primeira infância é uma fase crucial de crescimento e descoberta, onde os pequenos começam a explorar o mundo ao seu redor. É durante esse período que eles começam a interagir com outros, a distinguir diferentes sons e cores, a se envolver em brincadeiras e a responder a uma variedade de estímulos que ajudam a desenvolver suas habilidades motoras, linguagem e cognição.
Tudo o que é vivenciado nessa fase tem um impacto significativo na formação intelectual e emocional da criança, e mais tarde, do adulto que ela se tornará. Portanto, é essencial que, durante essa fase, as crianças aprendam a entender e gerenciar suas emoções.
Para os pais e cuidadores, é um desafio constante tentar orientar essa mistura turbilhão de sentimentos. O objetivo é garantir um desenvolvimento equilibrado em todas as áreas – intelectual, social, emocional e cognitiva. Isso é fundamental para que, na vida adulta, eles possam ser felizes, ter autonomia e estar equipados para lidar com as complexidades das relações pessoais e profissionais.
Por isso, é importante que os pais estejam atentos e dispostos a orientar seus filhos nesse processo. Isso pode incluir conversas abertas sobre emoções, estabelecer um ambiente seguro e amoroso onde a criança se sinta confortável para expressar seus sentimentos, e até mesmo buscar a ajuda de profissionais, se necessário.
Afinal, o objetivo é criar um ambiente que permita que as crianças cresçam e se desenvolvam de forma saudável, tornando-se adultos emocionalmente inteligentes e resilientes. Veja abaixo algumas dicas para você colaborar de forma eficiente nesse processo:
1- Nomeie as emoções: Comece por ensinar a criança a reconhecer e nomear as emoções. Use situações do dia a dia como oportunidades de aprendizado. Por exemplo, se a criança está chateada porque um amigo pegou um brinquedo, você pode dizer: “Vejo que você está chateado porque seu amigo pegou seu brinquedo”.
2- Valide as emoções: É importante validar as emoções da criança, independentemente de quão pequenas ou grandes possam parecer. Isso pode ser feito simplesmente ouvindo a criança e reconhecendo seus sentimentos. Por exemplo, “Eu entendo que você está triste porque não conseguiu o que queria”.
3- Expresse emoções de maneira saudável: Ensine a criança formas saudáveis de expressar suas emoções. Isso pode incluir desenho, escrita, dança ou apenas falar sobre isso.
4- Pratique a empatia: Mostre empatia pelo que a criança está sentindo. Isso não só valida suas emoções, mas também lhe ensina a ser empática com os outros.
5- Use a técnica do semáforo: Esta técnica ajuda as crianças a lidar com emoções difíceis. Ela envolve parar (luz vermelha), pensar sobre o que está sentindo (luz amarela), e então decidir o que fazer (luz verde).
6- Encoraje a autoconsciência: Ajude a criança a se tornar mais consciente de suas emoções e como elas afetam seu comportamento. Isso pode ser feito através de atividades como a técnica do “espelho”, onde a criança é incentivada a refletir sobre suas emoções e ações.
7- Ensine habilidades de resolução de problemas: Quando a criança está enfrentando uma emoção difícil, ajude-a a pensar em possíveis soluções para o problema. Isso não só ajuda a criança a lidar com a emoção atual, mas também a equipa com habilidades que ela pode usar no futuro.
Lembre-se, cada criança é única e o que funciona para uma pode não funcionar para outra. Portanto, é importante ser paciente e experimentar diferentes estratégias para ver o que funciona melhor para a sua criança.
Trabalhando as emoções no universo lúdico
O brincadeira lúdica é uma ferramenta essencial quando se trata de trabalhar as emoções com as crianças. Através do jogo, da fantasia e da diversão, as crianças conseguem compreender e lidar com conceitos complexos de forma mais natural e intuitiva. Um exemplo de sucesso atual é o filme Divertida Mente 2.
“Divertida Mente 2” usa o mundo lúdico para explorar o universo das emoções. O filme transforma sentimentos em personagens animados – Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojo, e isso permite que as crianças visualizem e compreendam as emoções de forma mais concreta e acessível.
Esta maneira leve de apresentar as emoções as tornam menos intimidantes e mais compreensíveis. As crianças podem ver que as emoções são essenciais e naturais na experiência humana, e não algo a ser temido ou evitado.
Por exemplo, a Tristeza, que pode ser vista como uma emoção negativa, é apresentada como uma figura crucial para nossa capacidade de empatia e compreensão. Isso ensina às crianças que todas as emoções, mesmo as mais difíceis, têm seu valor.
Ao aprender a reconhecer e compreender suas emoções, as crianças desenvolvem habilidades sociais vitais de autoconsciência e autocontrole. Isso não só ajuda no seu desenvolvimento emocional, mas também prepara as crianças para lidar com os desafios que acompanham o crescimento. Situações como mudanças na escola, novas amizades, conflitos interpessoais e a transição para a adolescência podem ser mais facilmente navegadas quando as crianças têm uma compreensão sólida de suas emoções, podendo falar sobre elas de forma direta.
São vários os estudiosos que buscam compreender como a brincadeira auxilia o desenvolvimento e a aprendizagem na infância. Oliveira (1997) corrobora estudos de Vygotsky (1998) afirmando que na situação imaginária constituída na brincadeira, a criança define a atividade por meio do significado do brinquedo, o que é de suma importância para o desenvolvimento cognitivo dela.
A autora ainda aponta o momento da brincadeira como sendo um processo de humanização no qual a criança aprende a conciliar a brincadeira de forma efetiva, criando vínculos mais duradouros. Assim, ela desenvolve sua capacidade de raciocinar, de argumentar, de questionar e de chegar a um consenso ou não pelas atividades lúdicas (Oliveira, 2000).
Segundo Chateau (1987), “uma criança que não sabe brincar é uma miniatura de velho, será um adulto que não saberá pensar”. Assim, para manter-se em harmonia consigo mesma, com seus semelhantes e com o mundo que a rodeia, ela necessitará de estímulos para assim, construir seus conhecimentos.
Como as emoções influenciam no aprendizado?
A aprendizagem nada mais é do que uma junção de muitos estímulos extrínsecos e intrínsecos processados pela atenção, memória, interesses, desejos, que permeiam a mente e o cérebro humano. Portanto, todos esses fatores devem estar em sintonia e devem ser estimulados de maneira saudável e equilibrada para que o aprendizado ocorra. Qualquer interferência afetará este processo. Há uma correlação forte entre um ambiente rico de estímulos e o aumento das sinapses (conexões entre as células cerebrais).
O cérebro possui um sistema dedicado à motivação e à recompensa. Quando uma criança é afetada positivamente, as áreas de prazer recebem uma dose de dopamina, substância que aumenta o bem-estar e mobiliza a atenção. Quanto mais motivados e interessados em determinada atividade, mais dopamina é liberada e mais facilmente as atividades serão lembradas. Ou seja, dali em diante, a ação ou objeto que proporcionou essa sensação alegre será reforçada e a criança vai querer repeti-la.
Já a criança que não encontra prazer no aprendizado registra menos retenção de conteúdo e consequentemente baixos níveis de desempenho – nestas pessoas os níveis de dopamina também são mais baixos. O efeito do prazer, por sua vez, não ocorre quando a tarefa a ser cumprida é fácil demais e não há desafio. Atividades muito difíceis, que ultrapassam a base de conhecimento prévio das crianças naquele momento, também serão abandonadas, pois o cérebro não encontra o prazer do sistema de recompensas. Temos um artigo completo sobre o assunto em nossa galeria, te convido a aprofundar.
Conclusão
É essencial o interesse e a dedicação dos pais e educadores em promover o desenvolvimento sócio emocional saudável das crianças. Além de fornecer um ambiente seguro e acolhedor para que elas expressem suas emoções, é importante lembrar que a prática da empatia e da escuta ativa também desempenham um papel crucial nesse processo. Cerca de 32%, das crianças e dos adolescentes buscam hoje apoio emocional na internet.
Ao demonstrar compreensão e apoio às emoções das crianças, os adultos estão validando seus sentimentos e fortalecendo sua autoestima. Isso cria um espaço de confiança e abertura, onde as crianças se sentem confortáveis para compartilhar seus pensamentos e sentimentos mais íntimos, promovendo um senso de conexão emocional e segurança.
Além disso, é importante lembrar que cada criança é única, com suas próprias experiências e desafios emocionais. Portanto, a abordagem para ajudar uma criança a identificar e lidar com suas emoções deve ser individualizada e adaptada às necessidades específicas.
Ao investir tempo e esforço no apoio emocional das crianças, os pais e educadores estão contribuindo não apenas para o bem-estar imediato das crianças, mas também para a construção de bases sólidas para um futuro emocionalmente saudável e resiliente. A jornada de desenvolvimento emocional é contínua e requer paciência, amor e dedicação, mas os benefícios a longo prazo são inestimáveis.
Colaboração: Mônica Merlini
Fontes:
CHATEAU, Jean. O jogo e a criança. São Paulo: Summus, 1987.
OLIVEIRA, Vera Barros. Brinquedoteca: uma visão internacional. Petrópolis: Vozes, 1997.
OLIVEIRA, Vera Barros. O brincar e a criança do nascimento aos seis anos. Petrópolis: Vozes, 2000.