As fobias, seus principais tipos e tratamento. Curiosidades sobre fobia de palhaços, chamada de coulrofobia. Maria Alice Fontes

Uma fobia é um medo intenso e irracional de um determinado objeto ou situação que atrapalha o comportamento e a vida cotidiana. A palavra FOBIA vem do grego phobos, que significa medo ou horror.

As fobias são diferentes dos medos comuns porque causam sofrimento significativo, possivelmente interferindo na vida diária em casa, no trabalho ou na escola. As fobias envolvem uma resposta psicológica exacerbada, geralmente ligada a um evento traumático do passado.

Pessoas com fobias evitam intencionalmente o objeto ou situação fóbica, ou suportam-no com intenso medo ou ansiedade.

As fobias são um tipo de transtorno de ansiedade e estes são muito comuns. Estima-se que eles afetem mais de 30% dos adultos em algum momento de suas vidas. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que a prevalência mundial do transtorno de ansiedade (TA) é de 3,6%. No continente americano esse transtorno mental alcança maiores proporções e atinge 5,6% da população, com destaque para o Brasil, onde o TA está presente em 9,3% da população, possuindo o maior número de casos de ansiedade entre todos os países do mundo.

Quais são as principais fobias?

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, Quinta Edição (DSM-5), descreve várias das fobias mais comuns.

Agorafobia é o medo que aparece quando a pessoa se encontra em situações ou locais dos quais seria difícil ou embaraçoso escapar ou mesmo receber socorro se algo de errado acontecesse.

As fobias sociais consistem em tensão nervosa, medo e desconforto desencadeadas pela exposição à avaliação social, que ocorre quando a pessoa precisa interagir com outras pessoas, realizar desempenhos sob observação ou participar de atividades sociais. A fobia social é um quadro amplo que tem diagnóstico particular.

Fobias específicas são uma categoria ampla de fobias únicas relacionadas a objetos e situações específicas. Fobias específicas afetam cerca de 12,5% dos adultos.

Quais são os critérios diagnósticos das fobias segundo o DSM-5?

A. Medo ou ansiedade acentuados acerca de um objeto ou situação (p. ex., voar, alturas, animais, tomar uma injeção, ver sangue). Nota: Em crianças, o medo ou ansiedade pode ser expresso por choro, ataques de raiva, imobilidade ou comportamento de agarrar-se.

B. O objeto ou situação fóbica quase invariavelmente provoca uma resposta imediata de medo ou ansiedade.
C. O objeto ou situação fóbica é ativamente evitado ou suporta do com intensa ansiedade ou sofrimento.
D. O medo ou ansiedade é desproporcional em relação ao perigo real imposto pelo objeto ou situação específica e ao contexto sociocultural.
E. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente com duração mínima de seis meses.
F. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
G. A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental, incluindo medo, ansiedade e esquiva de situações associadas a sintomas do tipo pânico ou outros sinto- mas incapacitantes (como na agorafobia); objetos ou situações relacionados a obsessões (como no transtorno obsessivo-compulsivo); evocação de eventos traumáticos (como no transtorno e estresse pós-traumático); separação de casa ou de figuras de apego (como no transtorno de ansiedade de separação); ou situações sociais (como no transtorno de ansiedade social).

De acordo com o DSM-5, fobias específicas geralmente se enquadram em cinco categorias gerais:

1. medos relacionados a animais (aranhas, cães, insetos)
2. medos relacionados ao ambiente natural (alturas, trovões, escuro)
3. medos relacionados a sangue, lesões ou problemas médicos (injeções, ossos quebrados, quedas)
4. medos relacionados a situações específicas (voar, andar de elevador, dirigir)
5. outro (asfixia, barulhos altos, afogamento, palhaços) Essas categorias abrangem um número infinito de objetos e situações específicas.

Não há uma lista oficial de fobias além destas descritas acima pelo DSM; portanto, clínicos e pesquisadores criam nomes para eles conforme a necessidade. Isso geralmente é feito combinando um prefixo grego (ou às vezes latino) que descreve a fobia com o sufixo -fobia. Por exemplo, o medo da água seria nomeado combinando hidro (água) e fobia (medo).

Estudar fobias específicas é um processo complicado. A maioria das pessoas não procura tratamento para essas condições; portanto, os casos não são relatados. Essas fobias também variam com base em experiências culturais, gênero e idade.

Quais são os sintomas de coulrofobia ou medo específico de palhaços?

Embora a coulrofobia não seja um diagnóstico oficial no DSM-5, ela pode ser considerada uma "fobia específica".

Para as pessoas que tem medo exagerado de palhaços, pode ser difícil manter a calma em eventos que outras pessoas sentem alegria, como: circos, carnavais ou outros festivais.

Vale ressaltar que sofrer de coulrofobia é diferente de ficar assustado enquanto assiste a um filme com um palhaço assassino. A coulrofobia desencadeia pânico profundo e emoções intensas, enquanto assistir a um filme pode desencadear medo passageiro e restrito durante a exibição do filme.

Pesquisadores descobriram que retratos de palhaços como personagens aterrorizantes e negativos no entretenimento popular contribuíram diretamente para o aumento de casos de intenso medo e fobia dos palhaços.

Quais os sintomas de uma fobia específica?

É importante reconhecer que, como qualquer outra fobia específica, o medo de palhaços desencadeia sintomas físicos e mentais como:

• náusea
• pânico
• ansiedade
• mãos suadas
• tremor
• boca seca
• sentimentos de pavor
• dificuldade para respirar
• aumento dos batimentos cardíacos
• emoções intensas, como gritar, chorar ou ficar com raiva ao ver o objeto do medo, um palhaço, por exemplo

O que causa medo de palhaços?

As fobias geralmente vêm de uma variedade de fontes, geralmente um evento profundamente traumático e assustador. Ocasionalmente, no entanto, você encontra um medo com raízes que não consegue identificar, ou seja, não sabe por que tem tanto medo da coisa em questão.

No caso da coulrofobia, existem algumas causas prováveis:

A. Filmes de terror. Há uma conexão entre palhaços assustadores na mídia e as pessoas com muito medo deles. Assistir a muitos filmes de terror com palhaços em uma idade impressionável pode ter um impacto duradouro – mesmo que tenha sido apenas uma vez na festa do pijama de um amigo.
B. Experiências traumáticas. Ter uma experiência que envolva um palhaço em que você ficou paralisado pelo terror ou não conseguiu escapar da situação pode ser classificado como uma experiência traumática. Seu cérebro e seu corpo seriam conectados a partir desse ponto para fugir de qualquer situação envolvendo palhaços. Embora esse nem sempre seja o caso, é possível que sua fobia esteja ligada a traumas em sua vida e é importante discutir isso como uma possível causa com um terapeuta ou membro da família de confiança.
C. Fobia aprendida. Este é um pouco menos comum, mas é igualmente possível que você tenha adquirido o medo de palhaços com um ente querido ou uma figura de autoridade confiável. Aprendemos regras sobre o mundo com nossos pais e outros adultos. Portanto, ver sua mãe ou seu irmão mais velho aterrorizado com palhaços pode ter ensinado a você que palhaços são algo a se temer.

Qual o tratamento para coulrofobia?

A maioria das fobias é tratada principalmente com psicoterapia, mas às vezes pode ser necessário associar medicamentos.

A psicoterapia é, essencialmente, terapia de conversa, onde você se encontra com um terapeuta para conversar sobre ansiedades, fobias ou outros problemas de saúde mental que você possa estar enfrentando. Para fobias como coulrofobia, pode ser recomendado associar duas técnicas de psicoterapia:

A. Terapia de exposição ou dessensibilização: Este tipo de terapia consiste em promover uma exposição progressiva ao evento ou situação traumática, em um ambiente não ameaçador e seguro. Nesse caso, o terapeuta pode mostrar uma imagem de um palhaço e você pode discutir os sentimentos e emoções que surgem no momento, trabalhando maneiras de reduzir e gerenciar sua intensidade.
B. Terapia cognitiva comportamental (TCC) consiste na reformulação de pensamentos e crenças que desencadeiam determinados comportamentos. Por exemplo, você pode trabalhar com seu terapeuta para mudar a maneira que pensa sobre palhaços até que se sinta melhor, mais positivo ou neutro.

Praticar algumas técnicas de relaxamento em casa pode também ajudar. Por exemplo:

• Atenção Plena (Midfulness). Esta é uma técnica simples de meditação que ajuda a focar no momento presente, em oposição a qualquer experiência traumática do passado. Lembre-se de que algumas vezes as fobias surgem de um trauma. Aprender a se ater onde está agora pode ajudar a reduzir sua resposta ao medo.
• Técnicas de relaxamento. Outros tipos de técnicas de relaxamento podem incluir meditação guiada por alguns minutos por dia, ioga ou diário em silêncio sozinho.

Bibliografia:

Organização Mundial de Saúde-OMS. Depression and other common mental disorders: global health estimates[Internet]. Geneva: WHO; 2017[cited 2017 Nov 04]. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/254610/1/WHO-MSD-MER-2017.2-eng.pdf

DSM-5 Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. [American Psychiatric Association; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento et al.]; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli et al.. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2014.