A importância da saúde mental nas Olimpíadas de Paris: 4 exemplos brasileiros. Maria Alice Fontes

As Olimpíadas de Paris trouxeram à discussão não apenas o talento e a dedicação dos atletas brasileiros, mas também a importância da saúde mental no esporte de alto rendimento. 

O ambiente do atleta está repleto de agentes estressores que, se não bem manejados, podem ser gatilhos para que questões de saúde mental se instalem. Lesões severas, cirurgias e dor crônica. Pressão por resultado, ansiedade competitiva, medo de falhar ou de perder são potenciais gatilhos para sofrimento emocional. Além, claro, de questões da vida pessoal, familiares e financeiras, entre outros, que também podem estar presentes.

É crucial discutirmos o que previne que atletas de alto nível desenvolvam transtornos mentais, assim como nós, pessoas comuns. O autocuidado é essencial; é importante reconhecer nossas próprias necessidades e limites, mantendo uma rotina de equilíbrio. Assim como os atletas, no pódio das habilidades socioemocionais, a resiliência tem um papel fundamental. A pessoa resiliente resiste à negatividade e escolhe focar em soluções e pensamentos otimistas. Afinal, nenhum sofrimento, seja emocional, psicológico ou físico, dura para sempre.

A resiliência nos ajuda a navegar pelos acontecimentos e relacionamentos com tranquilidade e confiança. Quando temos certeza de que podemos enfrentar qualquer desventura, independentemente do seu grau de dificuldade, passamos pelos momentos difíceis com mais facilidade e nos tornamos emocionalmente mais fortes.

Veja abaixo 4 exemplos de brasileiros medalhistas nas Olimpíadas de Paris que divulgaram sobre sua saúde mental e que servem de inspiração.

1- Rebeca Andrade – Ginasta

Foto: Alexandre Loureiro/COB

Rebeca Andrade, a ginasta que se tornou a mulher brasileira com mais medalhas em Olimpíadas, destacou a importância da preparação do corpo e da mente e o acompanhamento da mãe, Rosa Santos, para as conquistas em Paris. 

A atleta enfatizou o trabalho contínuo com a psicóloga Aline Wolff do Comitê Olímpico do Brasil. “Eu converso muito com a minha psicóloga. Eu tento cuidar ao máximo da minha cabeça e do meu corpo para criar aquele equilíbrio para que eu consiga fazer as minhas apresentações bem tranquilas, sem pressão, sem obrigação de voltar para casa ou para o Brasil com medalhas.”

Rebeca, que é estudante de psicologia, sabe na prática o segredo para o alto rendimento. Foco, tranquilidade e resiliência resultou para a atleta um resultado histórico, com medalha ouro no solo, duas pratas no salto e no individual geral, e um bronze por equipes.

Que a história de Rebeca nos inspire a encontrar o equilíbrio como chave para uma vida saudável. A medida certa é fundamental para manter o corpo e a mente em harmonia e poder desfrutar de pleno bem-estar e de grandes resultados.

2- Rayssa Leal – Skatista 

Foto: Gaspar Nóbrega/COB

Aos 16 anos, Rayssa Leal já construiu uma grande carreira no skate profissional. Com a medalha de bronze, a atleta destacou os cuidados com a saúde mental: “Faço terapia duas vezes por semana, não só para entender minha vida profissional, mas também minha vida pessoal, que é muito importante. Até porque sou uma adolescente ainda, tenho 16 anos.”

Em Paris, Rayssa teve um adversário fora das pistas: o pedido negado pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para ter a mãe, Lilian Mendes, na Vila Olímpica. Atualmente, a skatista não se enquadra na regra que habilita a presença de um acompanhante, o que acontece com os menores de 14 anos.

Este exemplo traz a discussão sobre o papel do apoio familiar no desenvolvimento. A presença ativa e constante dos pais pode ajudar crianças e adolescentes a se sentirem seguros ao expandirem suas experiências pelo mundo. Por outro lado, a sensação de estar constantemente pressionado a atender às expectativas familiares pode causar preocupação, insegurança e tensão emocional.

O exemplo de Rayssa nos ensina a incentivar a independência de forma positiva, que também é crucial para a inteligência emocional das crianças e adolescentes. Se nós, pais, estabelecermos uma boa base de autonomia e confiança, a criança se tornará um adulto mais seguro, com melhores habilidades e atitudes interpessoais, maior capacidade de decisão, e será uma pessoa mais feliz.

3- Bia Souza- Judoca

Foto: Alexandre Loureiro / COB

A judoca Bia Souza enfrentou o luto da avó pouco antes das Olimpíadas de Paris. A dor e a tristeza foram transformadas em motivação na conquista da medalha de ouro. O apoio de sua família e amigos foi crucial para que ela pudesse competir em alto nível, mostrando que, mesmo em momentos de grande dor, o suporte emocional pode fazer a diferença.

Bia buscou ajuda profissional para compreender e lidar com a perda e continuar com os preparativos para a competição. Ela transformou o momento difícil em “combustível” em busca do pódio em Paris.

O processo de luto é totalmente individual. Cada um tem a sua própria maneira de interpretar o vazio e a dor, desde o momento de um choro até os dias que irão seguir. E a Bia Souza, mostrou ser exemplo de superação e equilíbrio interno, transformando um momento de adversidade em força para buscar os seus objetivos. 

4- Caio Bonfim – Atletismo

Foto: REUTERS/Kai Pfaffenbach

Imagine sair de um contexto sério de saúde infantil, onde se corria o risco de não andar, e hoje ser referência na marcha atlética mundial? Essa é a história de Caio Bonfim, o primeiro brasileiro a vencer uma medalha na modalidade.

O pódio vem do foco, perseverança, disciplina e apoio dos pais, onde Caio não só venceu os problemas de saúde, como um dos seus maiores adversários. Exemplo de inteligência emocional, o atleta neutralizou dentro de si qualquer gatilho que vinha do preconceito à marcha atlética e mostrou o poder da automotivação.

Conclusão

A saúde mental é um componente essencial para o sucesso no esporte de alto rendimento, e os exemplos de Rebeca Andrade, Rayssa Leal, Bia Souza e Caio Bonfim nas Olimpíadas de Paris são testemunhos inspiradores disso. 

Eles nos mostram que, além do preparo físico, o cuidado com a mente é fundamental para enfrentar os desafios e alcançar grandes conquistas. A resiliência, o apoio emocional e a capacidade de automotivação são habilidades cruciais que não só ajudam os atletas a superar adversidades, mas também a se tornarem exemplos de superação e equilíbrio para todos nós. Que possamos aprender com essas histórias e valorizar a saúde mental em todas as áreas de nossas vidas.

Colaboração: Mônica Merlini

Fontes:

https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2024/08/05/rebeca-andrade-diz-que-nao-se-sente-pressionada-e-afirma-faco-porque-eu-amo.ghtml

https://www.metropoles.com/distrito-federal/de-sobradinho-a-paris-antes-de-prata-caio-bonfim-teve-doenca-grave

https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2024/07/rayssa-leal-nao-podera-ter-companhia-da-mae-durante-os-jogos-de-paris.shtml

https://www.cnnbrasil.com.br/esportes/olimpiadas/beatriz-souza-vence-final-do-judo-e-garante-1o-ouro-do-brasil/