A psicoterapia, nos últimos anos, vem alcançando um lugar de destaque no tratamento dos transtornos de saúde mental como a depressão e ansiedade, de forma que algumas abordagens, como a Terapia Cognitivo Comportamental podem apresentar resultados melhores que medicamentos clássicos usados contra esses transtornos.
Um dos motivos da efetividade das terapias pode estar no nosso processo evolutivo. De acordo com o Dr Steven D. Hollon (2020), professor de psicologia da Universidade de Vanderbilt, a depressão é inerentemente a qualquer situação de estresse e pode motivar o aprendizado e o enfrentamento de situações complexas (Clin Psychol Rev).
Os efeitos anódinos de um antidepressivo, por outro lado, podem desviar o paciente de se envolver no processo reflexivo para o qual a depressão evoluiu – uma razão porque talvez a psicoterapia parece produzir um efeito mais duradouro do que os antidepressivos.
Qual o ponto positivo da depressão e da ansiedade?
Quando se pensa na ruminação, processo ligado à depressão e ansiedade pelo qual persistimos com pensamentos reverberativos em nossa mente, só pensamos nele de forma negativa, o que só piora a depressão e a ansiedade.
Contudo, segundo Hollon, possivelmente, durante nossa evolução, o que deixava uma pessoa deprimida era algum problema social importante, que poderia fazer com que ela fosse expulsa da tribo. Portanto, o que se poderia fazer nessa situação seria parar e pensar em uma solução para o assunto.
Assim como na ansiedade, que, apesar de ter seus fatores negativos, ela possui uma função adaptativa de nos afastar do perigo. Quando estamos em uma perseguição, por exemplo, a ansiedade faz com que nossos sentidos estejam totalmente em alerta, além de ficarmos com todo nosso corpo preparado para fugir ou enfrentar o perigo.
Com a depressão, pode-se pensar que não há esse mesmo efeito de utilidade. Mas, segundo os autores, a depressão pode, por vezes, nos ajudar a ponderar, passar por um período de recolhimento e então encontrar uma solução. A tristeza e a diminuição da energia podem ser necessárias para a solução de um problema social complexo, por isso o processo de ruminação muitas vezes é importante.
Através da observação de médicos que cometeram erros que comprometeram vidas, vemos que a depressão melancólica, que eles sentiram após errar, fez com que desenvolvessem um estilo de aprendizagem mais rigoroso e atento aos detalhes para que não cometessem novos erros.
Contudo, essa hipótese evolucionista da depressão precisa de uma definição mais clara de transtorno, já que, classicamente, os transtornos são tidos como mau funcionamento do nosso organismo, e não como adaptações funcionais.
Portanto, deve-se identificar e mapear os casos em que a depressão é uma adaptação relevante para nós e quando essa adaptação deixa de ser funcional para ser somente um mau funcionamento.
Como a teoria evolucionista da depressão se adequa à Terapia Cognitiva Comportamental?
Neste contexto, a Terapia Cognitiva Comportamental ajuda as pessoas a ruminarem com mais eficácia. De acordo com essa abordagem, as pessoas continuam deprimidas porque mantêm crenças distorcidas sobre si mesmas, sobre o mundo e sobre o futuro.
Em nosso passado ancestral, a depressão funcionou muito bem, mesmo com a inexistência de tratamentos científicos. Mas, com a Terapia Cognitiva, as pessoas podem deixar de lado as suas crenças negativas sobre si mesmos e usarem sua energia para pensar em soluções mais adaptativas para os seus problemas.
Sem as chamadas distorções cognitivas na Terapia Cognitiva (erros sistemáticos na percepção e no processamento de informações), o paciente pode refletir com mais precisão sobre a realidade, mudar seus comportamentos e consequentemente seus sentimentos para resolver o problema vigente.
Qual é a eficácia da Terapia Cognitiva versus tratamento medicamentoso?
Há vários estudos que demonstram como a Terapia Cognitiva é superior ao tratamento medicamentoso, já que, por meio dela, o paciente aprende recursos para enfrentar novas situações que incluem perdas e adaptações. Algo que não acontece no tratamento medicamentoso. Nos casos do Transtorno de Estresse Pós Traumático, a psicoterapia, incluindo técnicas de EMDR podem ser mais eficazes que os medicamentos.
Na Terapia Cognitiva pedimos aos pacientes que se perguntem: qual é a causa do problema? Que outras explicações poderia haver? Quais são as evidências que apóiam um ou outro? E, especialmente, encorajamos os pacientes a confrontarem suas crenças fixas do tipo: “Eu sou incompetente” ou “Não sou digno de amor”, construindo uma explicação mais adaptativa e eficaz como: “Eu escolhi as estratégias erradas”.
Em casos que envolvem depressão e transtornos de ansiedade graves, sabe-se que a Terapia Cognitiva e o tratamento medicamentoso em conjunto trazem os melhores benefícios para o paciente.
De qualquer forma, o mais indicado é procurar a avaliação de um especialista da saúde mental para encontrar a melhor forma de tratamento, quer seja de psicoterapia e / ou medicamentoso, mantendo consultas regulares para avaliar os resultados.
Bibliografia:
Andrews PW, Maslej MM, Thomson JA Jr, Hollon SD. Disordered doctors or rational rats? Testing adaptationist and disorder hypotheses for melancholic depression and their relevance for clinical psychology. Clin Psychol Rev. 2020 Dec;82:101927. doi: 10.1016/j.cpr.2020.101927. Epub 2020 Oct 3. PMID: 33091744.
Powell, Vania Bitencourt, Abreu, Neander, Oliveira, Irismar Reis de, & Sudak, Donna. (2008). Terapia cognitivo-comportamental da depressão. Brazilian Journal of Psychiatry, 30(Suppl. 2), s73-s80. https://doi.org/10.1590/S1516-44462008000600004
Ponniah K, Hollon SD. Empirically supported psychological treatments for adult acute stress disorder and posttraumatic stress disorder: a review. Depress Anxiety. 2009;26(12):1086-109. doi: 10.1002/da.20635. PMID: 19957280.
https://www.scientificamerican.com/article/evolution-could-explain-why-psychotherapy-may-work-for-depression/
Agradecimentos à Wellington dos Reis Souza Silva pela ajuda no texto.