A aquisição de uma segunda língua. Maria Alice Fontes

Segundo a ASHA (American Speech-Language-Hearing Association), existem diferentes maneiras de usar o termo bilingüismo.

Para alguns, o bilingüismo significa uma habilidade para se comunicar em duas línguas de forma equivalente e, para outros, envolve a capacidade para se comunicar em duas línguas, mas com a possibilidade de maiores habilidades em uma delas.

Diferentes teorias são utilizadas para definir a melhor forma de ensinar a criança a usar duas línguas. A maioria dos pesquisadores concorda que a criança exposta simultaneamente a duas línguas em idade precoce, naturalmente aprenderá a usar ambas.

Segundo Gordon N., (2000) quando as crianças começam a adquirir uma segunda língua em uma idade precoce, elas desenvolvem a fluência com maior facilidade e falam sem sotaque.

A idade é um fator importante na aquisição da língua materna e isso se aplica também no desenvolvimento do bilingüismo.

Assim, as crianças que falam uma segunda língua por ouvirem tal idioma no ambiente em que vivem, estão adquirindo-a como se fosse a sua língua materna, ao passo que se começam a falar aos 12 anos estarão aprendendo-a como se fosse qualquer outro objeto de estudo.

Durante a aquisição e/ou aprendizado é possível que as crianças passem por períodos nos quais misturem as duas línguas e utilizem palavras de outro idioma para expressar idéias, algumas vezes na mesma sentença.

Isso ocorre porque o vocabulário pode existir em uma língua, mas não na outra. Ou ainda, porque palavras de uma língua podem transmitir uma mensagem que não é tão facilmente expressa na outra língua. Todavia a separação dos dois idiomas ocorrerá gradualmente.

As crianças também podem experimentar as duas línguas para criar efeitos especiais ou para se expressarem em ambientes específicos.

Por exemplo, uma língua pode ser identificada como menos formal e utilizada para informações sobre eventos relacionados ao lar e à família, enquanto que a outra pode ser identificada como mais formal sendo usada para atividades fora de casa.

Também poderão existir períodos em que um idioma é mais usado do que o outro, ocorrendo o oposto em mudanças de ambiente.

A criança pode não ter a mesma habilidade em ambas as línguas e também apresentar melhor compreensão do que expressão verbal.

Há menor risco de problemas de linguagem se ela aprender a associar as duas línguas diferentemente, por exemplo, se uma língua for usada enquanto fala com a mãe e a outra enquanto fala com o pai.

Atividade cerebral e o bilinguismo

Atualmente as pesquisas envolvendo estudos de imagem têm contribuído para avançarmos no melhor conhecimento do funcionamento cerebral, podendo-se mapear como determinadas áreas são ativadas no desenvolvimento de novas habilidades ou durante a execução de atividades.

Perani e colaboradores (1996, 1998) estudaram as diferentes áreas de ativação cerebral associadas ao aprendizado da língua materna em comparação com a aquisição de uma segunda língua.

A partir de técnicas como o Positron Emission Tomography (PET) e a Ressonância Magnética Funcional (FMRI) observou-se que os indivíduos que aprenderam duas línguas simultaneamente com a mesma proficiência desde uma fase muito precoce, ativavam a mesma área cerebral para a utilização tanto de uma língua como de outra.

Entretanto, os indivíduos que aprenderam a segunda língua quando mais velhos e que não conseguiam uma fluência plena, acabavam ativando áreas cerebrais diferentes para a língua materna e para a segunda língua.

Já é possível se fazer uma distinção entre aquisição precoce e aprendizado posterior de uma segunda língua. Assim, se existe a oportunidade, é claro que seria melhor adquirir naturalmente uma segunda língua do que aprendê-la posteriormente.

Este texto foi traduzido e adaptado do site www.asha.org.


Referência:

Neil Gordon. The acquisition of a second language. European Journal of Paediatric Neurology 2000; 4:3-7.